terça-feira, 23 de agosto de 2011

"A mitificação do herói em Os Lusíadas e Mensagem"

"Os Lusíadas apresentam, assim, um homem que "é a medida de todas as coisas, como defendia Protágoras, numa acepção humanista que se prende com uma determinada visão do mundo: o antropocentrismo, que substitui o teocentrismo medieval e, consequentemente, valoriza a razão em detrimento do dogma. É a apologia da experiência e do saber, e a crença nas capacidades ilmitadas do Homem que, em perfeita consonância com o espírito renascentista, encontramos na epopeia camoniana. A origem da matéria épica é real e enraíza na História de Portugal, construída pelo povo luso, o herói do pema.
[...]
O herói de Mensagem situa-se no domínio da utopia e do esoterismo, do oculto, traduzido no primeiro verso do poema "O Infante" ("Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"; - Segunda parte, Mar português), caracteriza-se por uma atitude contemplativa (ao contrário do herói camoniano, que é activo) e não se define enquanto ser individual. Este funciona como um símbolo e constitui-se a partir da própria essência do povo português, à qual subjaz a capacidade de sonhar, determinada por Deus, e de realizar esse sonho, o que contribui para o enriquecimento da alma humana. O herói torna-se um mito, porque "O mito é o nada que é tudo", pois é o mito que cria a realidade "E a fecundá-la decorre" (Primeira parte - Brasão, Os Castelos, "Ulisses").
O herói de Mensagem surge da necessidade de combater a estagnação que caracteriza o Portugal do séculoXX, agrilhoado numa paralisação que se tornara crónica, depois de Camões ter avisado os portugueses do perigo do ócio que "efemina os peitos" ( Canto VI, est. 96, v 4)."

Fonte: Análise das obras Os Lusíadas de Luís de Camões e Mensagem de Fernando Pessoa, Conceição Jacinto e Gabriela Lança, Porto Editora

O que é o mito? Para que serve?

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