terça-feira, 23 de agosto de 2011

"O mito como elemento fecundador da realidade em Mensagem"

"A obra Mensagem surge como resposta àquilo que Luís de Camões já referira na sua obra Os Lusíadas: o início da dissolução do Império Português, contra a qual tentou lutar através da palavra que serviu a denúncia, das críticas e dos apelos à acção dos portugueses, já então dominados pela inércia, e das exortações finais do rei D. Sebastião.
Fernando Pessoa possuía a perspectiva subsequente ao desmoronamento da alma nacional e soube avaliar o sentimento que, progressivamente, se instalou no inconsciente colectivo português, o saudosismo que nos conduziria, de facto, à inércia gerada por um mito que, durante séculos, alimentou a esperança dos portugueses do regresso de um qualquer salvador da nação, capaz de restituir ao país a glória perdida. É assim que o poeta do séulo XX propõe justamente a substância do nosso passado e o mito sebástico como forma de promover a regeneração de Portugal e de reconquistar uma identidade perdida, não através da construção de um império material, situado num espaço geográfico delimitado por fronteiras, mas profetizando a construção de um império espiritual, um império de união entre todos os povos, caracterizado pela fraternidade entre todos os homens.
[...]
Assim, na obra Mensagem, uma obra épico-lírica, o poeta reúne a memória da nossa História nacional, marcada pelo período áureo a que corresponde o empreendimento dos Descobrimentos, o desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir e a consequente perda da identidade da nação, que coincide com a perda da independência e instaura, no povo  português, o sentimento saudosista que dá origem ao mito sebastianista."

Fonte: Análise das obras Os Lusíadas de Luís de Camões e Mensagem de Fernando Pessoa, Conceição Jacinto e Gabriela Lança, Porto Editora



Comentem este excerto caracterizando os sentimentos nele expressos em relação à atualidade portuguesa.

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