segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Excerto de António Quadros

            "No segundo andamento, com o título de Mar Português [constituído por doze partes correspondendo cada uma delas a um poema], Pessoa quis dar-nos uma radiografia, simultaneamente épica e dramática, do que foi a grandiosa, contudo dolorosa Possessio maris[1] (epígrafe desta II parte). (…)
            Se é este segundo andamento que mais afirma a missão cumprida, como missão divina, é também nele que se nos lembra o seu preço, terrível preço do favor divino, que não é favor aos homens em seu egoísmo ou seus interesses, mas nomeação para o sofrimento em nome da redenção futura, da redenção universal, no paradigma de Cristo. E o tema de um dos mais belos e decerto o mais pungente poema da Mensagem, o que principia Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal?/ Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/ Quantos filhos em vão rezaram?/ Quantas noivas ficaram por casar/ Para que fosses nosso, ó mar?
            O poeta interroga: Valeu a pena? E responde, num protesto contra o egocentrismo ou o materialismo burguês satisfeito dos que só pensam em si próprios, retrato talvez do Portugal de hoje, que Fernando Pessoa precisamente quis esconjurar: Tudo vale a pena/ Se  a alma não é pequena."

Fonte: António Quadros (introd., org. e bibliog.), in Mensagem e outros poemas afns,
Publ Europa-América, 1990 (texto adaptado e com supressões)



[1] Possessio maris: [lat.] posse do mar.

1 comentário:

  1. Neste excerto de António Quadros principalmente quando ele refere os versos do poema da mensagem está bem patente o tamanho sofrimento que o povo português passou para possuir os mares, porque para atingir tão grandioso feito, houve muitas mortes, muitas famílias que ficaram sem os seus entes queridos, mas para Fernando Pessoa tudo valeu a pena, pois o objectivo foi atingido.

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